11 de outubro de 2012

O mosquito é meu!

É meu, o mosquito, como é vosso. Passou a ser. Tão nosso como as bananas e o vinho. E provavelmente há de nos sobreviver a todos. Que o digam as baratas que por aqui andam há 50 milhões de anos. Da mesma maneira que a maior parte das pessoas aprendeu cedo a lidar com a restante "bicheza", o mosquito não deverá ser diferente. Assim de repente, consigo lembrar-me de 3 ou 4 doenças piores que a dengue transmissíveis pelas baratas, ratos, pombos, cães e carraças. Para espanto generalizado, vivemos todos os dias entre eles. Não fazemos é a cama em cima de uma carcaça em decomposição, não comemos coisas que encontramos no chão (e a regra dos 8 segundos é um mito pouco higiénico), não vamos jogar à bola para dentro do esgoto nem fazemos praia nús em cima das rochas brancas onde as gaivotas se aliviam.

Se eu gostava de viver numa região "dengue-free"? Gostava. Mas também gostava que os fins de semana tivessem 5 dias, que o euromilhões fosse de um número só, que Portugal fosse campeão do mundo e que os Delfins nunca tivessem existido. Mas lá calha que volta e meia tenho que levar com eles na rádio e assim que deixo de sangrar dos ouvidos, mudo de estação. Lá calha que há seleções de futebol que dão pelo nome de Brasil, Espanha, Argentina ou Alemanha. Lá calha que por muito que acredite nos 5 números e 2 estrelas onde fiz o xis, há sempre um casal obeso inglês que acredita mais, mas continuo a jogar. Lá calha que os meus fins de semana por vezes teem apenas um dia, mas sei que a recompensa virá em formas metafísicas de gáudio e regozijo profissional e espiritual.

Há, no entanto, uma particularidade. Quando vou de visita a uma região indígena, populada por canibais, será útil ser avisado atempadamente e não apenas quando der por mim dentro de um banho quente de cenouras, nabos, batatas e ervas aromáticas, com um pigmeu a espetar-me um garfo a cada 15 minutos para ver se estou tenro. Os turistas de qualquer região merecem mais, sob pena de apelidarem o local, não de exótico e sub-tropical (que até fica bem em qualquer brochura promocional), mas de terceiro-mundista. Avisar alguém que há mosquitos algures e não lhes dizer o perigo que eles carregam no ferrão é o mesmo que avisar que numa excusa região indígena há pessoas e omitir que por acaso são canibais e comem os visitantes.

Dito isto, há regiões que estariam bem piores com o mosquito do que nós. Duas palavras para reflexão: Escócia e kilt.

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O mosquito é meu!