Há tempos, almoçava numa esplanada na baixa de Lisboa com
uma amiga e testemunhámos a "discussão do pão com manteiga":

Há dois anos, os portugueses acharam que não suportavam
mais austeridade e pediram ajuda internacional, certos de que as contrapartidas
seriam poucas ou nenhumas, até porque somos um povo simpático, com jogadores de
futebol do catano, boa comida e sempre temos o fado. Comemos o pão com
manteiga, as azeitonas, os rissóis e aquela gosma de sapateira que ninguém sabe
o que leva na mistura.
A meio da refeição, chega-nos a conta, chamamos o
empregado que nos serviu e dizemos:"Epá, você enganou-se e está-nos a cobrar
juros e essas coisas. Veja lá isso." A troika, de laço preto na camisa
branca e avental, diz-nos "Não, não. Isso era tudo pago e os senhores
consumiram". "Ah, mas ninguém nos avisou que isto era pago.
Puseram-nos isto em cima da mesa e achamos que era à borla", insistimos
nós. O triunvirato (como lhe chama Portas) levanta o sobrolho e replica-nos
asperamente: "sabe que isto na Europa é assim, as entradas são
pagas!"
A diferença para a situação quase análoga antes descrita,
é que não nos podemos ir embora sem pagar, sob pena de restaurante nenhum
sequer nos abrir a porta no futuro e de morrermos à fome porque não temos onde
nem como cozinhar a nossa própria comida.
Se podíamos ter perguntado o preço antes? Talvez. Os
acepipes são caros demais? É provável. Será que o restaurante faz desconto para
cartão da Zon? Não, não faz e desconta sem falta os cheques pré datados que
passamos no dia em que vencem.
Espanha já percebeu que os acepipes custam caro e apesar
da fome ser tanta ou mais do que a portuguesa, protela o mais que pode levar a
mão ao apetitoso rissol de camarão ali a olhar para o país.
Não teço considerações sobre os trocos que temos no bolso
e a nossa capacidade para os entregar ao restaurante, mas estou em crer que a partir de agora os portugueses vão começar a
perguntar o preço de tudo o que levam à boca.
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